Substância, de Guimarães Rosa, foi matéria prima. Os atores, a complementar. A encenação não é mais um nem outro. O deslize sobre o texto rosiano constrói lugares, a princípio, em branco que são coloridos aos poucos por sonoridades extraordinárias e por imagens em movimento. Os elementos da peça, impulsionados pela escritura, atravessam o corpo e reverberam em imagens, movimentos, musicalidades, textos dissociados da imposição de qualquer autor. Os fragmentos em pó não pretendem ensinar, nem impor moral. Mas, encenam uma possível existência amorosa registrada no sol, na dor e no trabalho duro.
A circularidade da encenação não dispõe ao espectador leitura passiva, chapada e unilateral. Prefere que ele se encontre na cena, retirando dela histórias (imaginárias) e leituras que o desejo permitir. Os atores não interagem fisicamente com a platéia. O jogo estabelecido convida o público a dançar o tempo, a beleza, o trabalho, a carne, a felicidade, a paixão...
Não há essência que possa ser apreendida, nem no texto nem na peça, mas há registro da vivência de personagens sobre solo e sob chuva. Canção, dança, interpretação, palavra deveriam anestesiar o dia-a-dia doloroso das vidas no campo. No entanto, quase sem querer, eles expõem a ferida de forma desviada, através da poesia sonora dos corpos dançantes.
Difícil explicar somente com palavras o que significa poesia, corpo, música, dança, todos juntos em cena. Aquele que quiser experimentar, tem somente que comparecer. Não precisa trazer muita coisa, porque farinha é substância que dá pra fazer milagres.

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