quarta-feira, 30 de maio de 2012

Núcleo de Pesquisa "Nelson, o estranho familiar" - Grupo XIX de Teatro







SOBRE A PROPOSTA:
Para o ano de 2012 a proposta dos Núcleos de Pesquisa e Treinamento do Armazém 19 é estar atrelado ao novo processo de criação do grupo XIX, que tem como ponto de partida o universo rodriguiano a partir da peça “Vestido de Noiva”. Assim convidamos os artistas a adentrarem em nosso processo, nos provocando e porque não dizer delineando e definindo os rumos desta nova criação.
Pesquisar a obra rodriguiana é um desafio. Sua produção dramatúrgica, jornalística, folhetinesca e futebolística confunde-se com a própria história da formação da mentalidade brasileira ao longo do século passado. Autor teatral mais interditado pela censura em qualquer época, maldito, reacionário para uns, transgressor para outros, Nelson Rodrigues é dono de uma obra polpuda, rica em simbologias, propícia à visitação para que dela se extraia um substrato outro, lacunar por excelência porque debruçada sobre o desejo humano.
Durante 2 meses, os atores do grupo XIX revezam-se nas funções de orientadores e também participam como integrantes junto à outros atores/ artistas interessados.
Pesquisar as possibilidades cênico-documentais da peça “Vestido de Noiva”, seu jogo engenhoso a partir das ações simultâneas em tempos diferentes, os planos da alucinação, realidade e memória abolindo a própria noção do tempo, instaurando o instante presente como regra: nada aconteceu, tudo acontece, está acontecendo. Explorar este jogo, achar outros caminhos para a mesma “brincadeira.”
Mas também explorar os outros textos teatrais de Nelson Rodrigues, suas simbologias, a figura do coro, sempre presente nas peças e suas possibilidades de criar matizes espaciais e dramatúrgicas, os diversos tipos recorrentes, as situações limites exploradas por ele à exaustão, seus personagens obsessivos, capazes de morrer ou matar por amor. A pesquisa e investigação estende-se também à sua obra literária, sua radiografia precisa dos costumes do Brasil de uma determinada época, a sua capacidade de transmutar os fatos de sua própria vida em obras artísticas, a sua contraditória e incoerente postura política. Radiografar e explorar esse material, encontrar lacunas e frestas por onde possamos entrar e encontrar o viés rodriguiano que habita em nós hoje, nesse Brasil alucinado que se desenha todos os dias nas manchetes de jornal, talvez não mais tão sensacionalistas como na época em que Nelson habitava as redações brasileiras, mas nem por isso menos virulentas ou nocivas ao cidadão brasileiro.
Do ponto de vista prático, o Núcleo desenvolve-se como uma espécie de rodízio, onde cada um dos atores do grupo propõe procedimentos e dinâmicas para a pesquisa cênico-dramatúrgica, mas também se colocam na experiência, na vivência e no fazer teatral, em harmonia com os outros atores/artistas inscritos no Núcleo. Tudo isso para criar uma espécie de baú, de diário processual que servirá de base para a criação da nova peça.


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