terça-feira, 16 de novembro de 2010

cena do curta-metragem 2 E MEIO

 

CRÍTICA - FESTIVAL DE TIRADENTES
2 e meio, de Alexandre Serafini, por Thiago Macêdo
Numa sessão permeada pela experimentação em linguagem, 2 e meio chama a atenção pela abordagem clássico-narrativa do roteiro. É um curta de ficção, sobre um mecânico de elevador que tem seu carro roubado e, para evitar a ruína de tudo que havia construído até então (sua independência econômica de um empregador, as prestações do carro), decide fazer tudo que possível para recuperar o veículo, inclusive arriscar a própria vida. O local de ambientação é a periferia de Vitória e os personagens são construídos de modo realista, com atuações naturalistas, ainda que em alguns momentos certas opções estéticas “traiam” essa premissa, como closes excessivamente dramáticos.
A linguagem clássica adotada pelo diretor Alexandre Serafini abre mão da utilização da trilha sonora e de uma montagem manipulativa, na tentativa de levar o espectador a se deixar fruir pela evolução da narrativa. Mas em determinado momento, quando o personagem decide buscar uma maneira de recuperar o próprio carro, ainda que para isso fosse necessário comprá-lo de volta de quem o furtou, o filme toma um novo rumo e é possível sentir a mão da direção. Num lugar praticamente isolado e mais longínquo, o personagem é convidado a entregar um saco com dinheiro para um garoto desconhecido, abandonar o carro emprestado e entrar num beco que simulava um labirinto, tudo guiado pela voz do assaltante com quem falava ao celular. Uma grande tensão toma conta do filme, quando passamos a fazer as vias do personagem e, por mais que a câmera não seja literalmente subjetiva, de fato parece ser, pois a surpresa que pode estar no final do beco é inesperada tanto para o personagem quanto para quem vê.
A importância deste plano reside também na quebra com uma espécie de lógica de verossimilhança estabelecida até então, pois o assaltante guia o caminho do personagem principal sem que saibamos exatamente como ele faz isso. Não existe um lugar mais alto de onde ele pudesse ver o personagem, não existe uma definição de que ele seguia o homem durante o trajeto (e em nenhum momento existe a possibilidade de se olhar para trás, pois o medo é tamanho que petrifica e a obstinação é tão absoluta que só é permitido olhar adiante). É um artifício colocado, que apesar de se ligar perfeitamente à narrativa, não precisa de uma explicação lógica para sua onipresença e onisciência. A voz guia filme, personagem e espectador para o clímax, como uma interferência externa da sala da montagem, e que eleva o antes clássico ao posto de também experimental.

*Visto na 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Direção: Alexandre Serafini
Roteiro: Saulo Ribeiro
Elenco: Othoniel Cibien, Vanessa Biffon, Higor Campagnaro, Waltair de Souza Jr e Márcio Miranda.


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